Autor do
best-seller Inteligência emocional e de mais de 10 livros sobre psicologia,
educação, ciência e liderança, Daniel Goleman fala sobre a inteligência
emocional no ambiente de trabalho
Testes de QI
sempre foram tomados como parâmetros de mensuração da inteligência individual
e, por tabela, ainda são um meio de um sujeito dizer que é mais inteligente do
que os outros à sua volta. Mas o que as organizações, governos e a sociedade
precisam é de líderes sensíveis, que saibam desenvolver uma empatia social com
a sua equipe; essa competência é vital no frontdas crises, seja quais forem as
suas proporções. Aqui entra o psicólogo Daniel Goleman e sua teoria da
Inteligência Emocional.
A trilha
acadêmica de Goleman é extensa, e o relato de sua experiência mais ainda.
Começando pelo meio, ele concluiu os seus estudos de doutorado e pós-doutorado
por Harvard após várias viagens pela Ásia estudando métodos ancestrais de
psicologia, como a meditação. O trabalho resultou em seu primeiro livro, A
mente meditativa, o primeiro de uma dezena. Mas o verdadeiro sucesso editorial
veio com Inteligência emocional, concluído em 1995: cinco milhões de cópias
vendidas, traduzido para mais de 40 línguas. Ele também é professor, consultor
e jornalista científico, com 12 anos de contribuição para o The New York Times.
A teoria da
inteligência emocional é um verdadeiro mantra da liderança, especialmente para
os leitores corporativos. A forma como lidamos com as nossas emoções, atitudes
e relacionamentos é capaz de dizer mais precisamente como agimos diante das
situações profissionais, e isso importa muito mais do que testes padronizados.
Como exemplo, o psicólogo cita a empatia social, a habilidade de compreender o
ponto de vista ou perspectiva de outra pessoa, e assim sentir o que ela está
sentindo. Confira a entrevista que ele concedeu com exclusividade à
Administradores.
RA: Você diria
que é possível motivar ou desenvolver empatia a partir de uma motivação
puramente interna, ou é necessária uma força externa?
DG: Na verdade, a
melhor motivação para desenvolver força mental e inteligência emocional é
interna; você tem que ter o desejo de melhorar. Por exemplo, a empatia social,
sua habilidade de compreender o ponto de vista ou perspectiva de outra pessoa e
assim sentir o que ela está sentindo. Você pode receber mensagens sutis do
mundo externo dizendo que você não é tão bom nisso quanto precisa, mas então só
depende de você decidir o quanto se importa e o quanto está disposto a fazer
para melhorar nesse aspecto. Somente motivado você pode desenvolver
intencionalmente a sua força mental e a inteligência emocional.
Como podemos
desenvolver a nossa inteligência emocional?
Existem cinco
passos. Primeiro você tem que se perguntar: "Isso é realmente importante
para mim?". Você tem que estar motivado, tem que visualizar seus
objetivos, analisar seus valores e aonde você quer chegar na vida e na
carreira. Se você responder a essa primeira pergunta, parta para o segundo
passo: uma análise de 360 graus, como o ESCI (sigla em inglês para Inventário
de Competências Emocionais e Sociais), assim conseguindo uma avaliação honesta.
Quando nos
avaliamos, nossa visão pode ser distorcida pelos nossos pontos cegos. Mas em um
360º você recolhe confidencialmente e anonimamente as opiniões de pessoas que
você respeita, chegando a uma média. O terceiro passo é olhar para esses
resultados e identificar as suas habilidades de inteligência emocional e
autoconsciência: a maneira que você se administra, como você empatiza com as
pessoas, como você forma relações, sua persuasão, cooperação e capacidade de
trabalho de equipe.
Onde quer que
seja, identifique a área na qual você acredita que vale a pena o seu tempo e
esforço para melhorar. Aí você estabelece um plano de mudança, um contrato
consigo mesmo sobre um comportamento específico que você tentará mudar, como
parar e ouvir atentamente o que está sendo dito, compreender completamente o
que você está pensando antes de falar. Em um diálogo, isso melhora bastante a
sua empatia. O quinto passo é tentar seguir este comportamento em todas as
oportunidades que se apresentarem. Se você fizer isso durante três e seis
meses, verá que as pessoas começarão a reagir e notará a sua melhora.
Existe algum tipo
de teste usado para medir a inteligência emocional ou ela só pode ser
identificada em situações práticas?
Acredito que
todos podemos sentir a inteligência emocional de uma pessoa sempre que
interagimos com ela. Temos meio que um radar natural para isso. Com algumas
pessoas você sente essa atração, uma química, uma simpatia. Esse é um sinal
claro de uma inteligência emocional desenvolvida; já com outras pessoasvocê não
consegue estabelecer uma ligação, elas são um pouco diferentes. É um sinal de
que precisam de ajuda com a sua inteligência emocional. Então, por um lado,
todos nós temos um senso inato para isso, por outro, existem atualmente vários
testes direcionados à inteligência emocional. Alguns não são muito bons, e
outros são muito bons para propósitos específicos.
Se falarmos na
esfera empresarial, no campo dos negócios, há testes assim?
No campo dos
negócios existem testes que auxiliam na seleção para contratação e testes que
facilitam notar aqueles que merecem ser promovidos a posições de liderança. Eu
fui co-criador de um processo em 360 graus para desenvolver a inteligência
emocional de líderes chamado ESCI. Ele foi criado para que tanto o indivíduo se
autoanalise, como também para que aqueles que o conhecem bem o avaliem. Então
você pode decidir em que área precisa de ajuda para desenvolver-se e pode usar
o programa como um motivador para o seu próprio crescimento.
Em seu trabalho
você discorre sobre cinco tipos de inteligência emocional: autoconhecimento
emocional, o controle emocional, auto-motivação, o reconhecimento de emoções em
outras pessoas e a habilidade de manter um relacionamento interpessoal. Cada um
desses tipos serve como requisito para o outro? Para trabalhar essas
inteligências emocionais, deve-se trabalhar os estágios anteriores?
Penso que a parte
mais fundamental da inteligência emocional é a primeira, o autoconhecimento. A
maneira como administramos a nós mesmos é a segunda parte. A terceira depende
completamente do quanto nos conhecemos, assim como a nossa capacidade de
estabelecer relacionamentos com os outros depende da habilidade de empatizar
com eles. Cada uma das partes usa as anteriores como base.
Você mencionou
anteriormente que as pessoas precisam descobrir o que querem para manterem-se
motivadas. Como você propõe que façamos isso?
Para conhecer os
seus próprios valores você precisa de autoconhecimento. Precisa saber o que
importa para você, e trabalhar um senso próprio do que é certo e errado.
Em sua opinião,
aqueles que têm uma vida mais saudável e feliz, marcadas por vários
relacionamentos e vidas sociais mais intensas, são melhores em seu trabalho?
Diria que as
pessoas geralmente mais positivas, extrovertidas e bem conectadas com outras
nas suas vidas sociais podem trazer isso para o trabalho, tornando-se bons
colaboradores, trabalhadores em equipe e possivelmente ótimos líderes. Então
sim, com certeza.
Apesar do
conceito de inteligência emocional ser algo recente, você acredita que ele já
era familiar aos grandes líderes e filósofos da antiguidade?
Acredito que os
elementos básicos da inteligência emocional sempre formaram líderes
excepcionais desde a antiguidade até os tempos modernos. A diferença é que hoje
nós entendemos a base cerebral, e temos maneiras de medir isso nas pessoas e de
ajudá-las a desenvolver esses traços. Essa é uma prática antiga, mas um
conhecimento completamente novo.
Assim como os
arquétipos da morte e do herói estão presentes no inconsciente humano, a imagem
do líder também figura no nosso imaginário. Você diria que essa imagem pode ser
considerada um arquétipo?
Penso que a
imagem de um líder é o que poderia ser chamada de um arquétipo fundamental,
construído durante milhões de anos de evolução na mente inconsciente humana. O
líder é como um pai em um sentido bastante primitivo: alguém em que nós
procuramos segurança em tempos de crise, incerteza e estresse, assim como uma
criança procura um pai.
Um bom líder não
apenas é bom em delegar funções, ele precisa ser capaz de transmitir emoções.
Qual a importância dessa função do líder?
O trabalho
emocional de um líder é extremamente importante e consiste em ajudar as pessoas
a chegar a um estado emocional ideal, em que elas consigam trabalhar melhor, e
mantê-las nesse estado. Sinceramente, acredito que essa é a função mais
importante de um líder.
Em várias
situações o líder formal não é necessariamente o líder emocional de um grupo e
isso pode criar vários problemas. Como resolver esses conflitos em uma
empresa?A situação ideal é aquela onde aquela pessoa com o título de líder (o
chefe, CEO, presidente etc.) é também a pessoa que desempenha o papel de líder
emocional. Essa é a situação que você deseja. Quando esses dois papéis são
ocupados por pessoas diferentes, você tem dificuldades sérias, porque as
pessoas têm muita consideração pelo líder emocional, e se o suposto líder não
tem o mesmo respeito ou a mesma importância, ele será bem menos eficiente do
que deveria.
É difícil não
comparar o conceito de inteligência emocional com o de inteligências múltiplas
proposto por Howard Gardner. Existe alguma similaridade ou afinidade entre
essas duas teorias?
Eu construí o meu
próprio modelo. No trabalho de Howard Gardner ele fala de vários tipos de
inteligência, duas das quais são chamadas intrapessoal e interpessoal.
Intrapessoal é o autoconhecimento e interpessoal são nossas habilidades de
estabelecer e manter relações pessoas. A inteligência emocional é uma maneira
de examinar esse objeto de maneira mais detalhada, especialmente de uma forma
que seja útil para o ambiente de trabalho e liderança.
E qual é a sua
relação com Gardner? Vocês já trabalharam juntos?
Nós não
trabalhamos juntos. Nós nos graduamos na Universidade juntos, nos conhecemos há
bastante tempo e eu respeito profundamente o seu trabalho. Nós somos bons
amigos, mas não fazemos pesquisas juntos.
Você lançou
recentemente o livro O cérebro e a inteligência emocional (The brain and
emotional intelligence, ainda sem versão em português). O que pode nos falar
sobre esse trabalho?
Bem, quando eu
escrevi o livro Inteligência emocionale vários outros, tentei sempre me manter
o mais atualizado possível, especialmente no campo da pesquisa cerebral. Mas
fazia vários anos desde a última vez que eu tinha escrito algo sobre liderança
ou inteligência emocional, então achei que era um bom momento para analisar as
descobertas mais recentes sobre o cérebro e o que elas significam para a
pesquisa de inteligência emocional. Por isso que eu escrevi O cérebro e a
inteligência emocional, e lá eu falo sobre criatividade e como um administrador
pode criar condições que encorajem pensamento inovador.
Baseado em
pesquisas recentes, pude descrever maneiras pelas quais os líderes podem criar
circunstâncias que possibilitem às pessoas trabalharem melhor. Essa área de
análise de performance deve muito a uma compreensão recente do relacionamento
entre as emoções e o resto do cérebro. Assim, pude descrever várias situações
importantes para o ambiente de trabalho e ver como a nova pesquisa cerebral pode
nos ajudar.
Para encerrar,
quais os resultados em uma empresa que cria esse ambiente harmônico e encoraja
o desenvolvimento da inteligência emocional?
Melhores
resultados financeiros, melhor nível de satisfação dos empregados, melhor
motivação e uma maior retenção de talento, evitando que as pessoas mais
importantes deixem a companhia.
Fonte:
Aministradores