Queremos nos sentir integrados ao grupo em que convivemos e
reconhecidos por nossos valores. Entretanto, a ânsia de sermos percebidos pode
gerar uma situação inversa: levar-nos à anulação de nossa identidade e de
diferenciais que fazem parte da nossa “marca”, valorizam e reforçam nossa
autoestima, tornando-nos iguais a todos e, por isto, “invisíveis” entre os que
fazem a diferença.
E quando corremos esse
risco? Quando assumimos um personagem e deixamos de lado o que realmente somos
e mimetizamos ideias e comportamentos padronizados. Uma realidade que faz parte
da sociedade contemporânea e, assim, do mundo corporativo, razão por que senti
a necessidade de dividir minhas percepções com os leitores e provocar uma
discussão sobre o “palco” onde muitas vezes representamos papeis alheios na
tentativa frustrada de sermos protagonistas.
Depois de muitos anos
de consultoria, percebo que muitos empresários, executivos, profissionais de
marketing demonstram baixo grau de espontaneidade. Com o passar do tempo, o
lado humano e singular de cada profissional começa a ser invadido pelo
personagem estereotipado, pela artificialidade. Um processo altamente
contagioso, que cria o predomínio de linhas de pensamento únicas, exatamente
por que privilegia a representação.
Esse cenário já começa a ser ensaiado no momento da seleção
de novos profissionais. Por um lado, os entrevistadores acabam direcionando as
respostas e o comportamento do candidato; por outro, quem almeja o cargo segue
a cartilha do “profissionalmente correto”. Uma rotina que faz com que as
empresas contratem personagens desvinculados de suas vidas pessoais, do “ser”
humano.
Ao discutir a importância da autenticidade, vale lembrar o
questionamento feito por Balzac: "Não haverá entre um espírito que se
abarrota de invenções alheias e outro que inventa por si próprio a mesma
diferença entre um recipiente que se enche de água e a fonte que a
fornece?"
E o que precisamos para sermos a fonte?
Acredito que o caminho está em romper com a dualidade entre
ator e o “seja você mesmo”. No momento em que nos libertamos da representação,
a individualidade reflete nossos diferenciais, o que nos torna naturalmente
aceitos, importantes para o grupo do qual fazemos parte e a empresa cultiva um
relacionamento saudável, natural e criativo.
Sermos o que realmente somos é o primeiro passo para nos
tornarmos melhores do que já somos. Ser autêntico e valorizar a própria marca
traz autoestima e reconhecimento, abrindo portas para o aprimoramento e novas
oportunidades. Creio que este é o segredo para fugir do estigma de “ator de uma
peça só”, da estagnação profissional e pessoal.
Fonte: http://www.fbde.com.br/